Quantas vezes excelentes técnicos
falham objectivos que pareciam estar ao seu alcance?
Que leva dirigentes com elevados
graus académicos a serem justamente criticados pelos falhanços das suas
posições, enquanto outros, que se julgava estarem menos preparados, atingem
resultados extraordinários?
Porque falham tantos profissionais
com QIs no topo superior da escala?
Resposta: o relacionamento.
Um Olhar Retrospectivo
Quando António Damásio renunciou à “zona de conforto” que o seu lugar em Portugal lhe conferia (Departamento de Neurologia do Hospital Universitário de Lisboa), partiu na certeza de que só conhecia os alicerces do estudo do cérebro. A lógica cartesiana que sustentara os últimos 350 anos do desenvolvimento científico perdera o estatuto de verdade dogmática. O Discurso do Método tinha de ser questionado. Por si.
Quando António Damásio renunciou à “zona de conforto” que o seu lugar em Portugal lhe conferia (Departamento de Neurologia do Hospital Universitário de Lisboa), partiu na certeza de que só conhecia os alicerces do estudo do cérebro. A lógica cartesiana que sustentara os últimos 350 anos do desenvolvimento científico perdera o estatuto de verdade dogmática. O Discurso do Método tinha de ser questionado. Por si.
António Damásio (n. 1944) e sua
mulher Hanna Damásio (n. 1942) são hoje insignes neurocientistas. As suas obras
e, sobretudo, as suas pesquisas na Universidade do Sul da Califórnia, continuam
a permitir enormes avanços nas relações humanas, nomeadamente a nível
comportamental.
Quando em 1983 Howard Gardner publicou
a inovadora Teoria das Inteligências Múltiplas
baseou-se em estudos no que havia sido designado por E.L. Thorndike (1874-1949),
por volta de 1920, como Inteligência Social - A capacidade para dirigir homens e mulheres, rapazes e raparigas no
sentido de actuação adequada às relações humanas.
Foi, contudo, John Mayer o primeiro
autor a utilizar a expressão Inteligência Emocional, em meados dos anos 1980s,
embora a primeira publicação que regista o facto date de 1990. Em 2000, o autor
em parceria com Peter Salovey escreveria um importante artigo sobre o tema,
identificando Inteligência Emocional como ...a capacidade de perceber e
exprimir a emoção, assimilá-la ao pensamento, compreender e raciocinar com ela,
e saber regulá-la em si próprio e nos outros.
Mas foi Daniel Goleman com as suas
obras Emotional Intelligence e Trabalhar com Inteligência Emocional (1998) e o
clássico artigo HBS intitulado What Makes a Leader? que colocaram
definitivamente o tema no mundo dos negócios. Goleman, ex-editor de Ciência do
New York Times,disse: (IE é a) ...capacidade de identificar os nossos
próprios sentimentos e os dos outros, de nos motivarmos e de gerir bem as
emoções dentro de nós e nos nossos relacionamentos.
Os temas Inteligência Emocional e
Soft Skills entravam de vez em cena no mundo dos negócios, transformando
crenças antigas.
Inteligência Emocional – Domínios e
Etapas
Segundo Daniel Goleman, são os seguintes os domínios / etapas de desenvolvimento da Inteligência Emocional:
- AUTO-AVALIAÇÃO: Habilidade para conhecer as emoções próprias e não ter receio de falar sobre elas;
- AUTO-REGULAÇÃO: Habilidade para controlar os impulsos próprios e de os canalizar para propósitos positivos;
- MOTIVAÇÃO: Paixão pelo cumprimento de objectivos;
- EMPATIA: Habilidade de relacionamento com os outros, considerando os seus sentimentos na altura da tomada de decisões;
- COMPETÊNCIAS SOCIAIS: Habilidade para construção de relações com os outros, trazendo-os para ambientes cooperativos e orientando-os na direcção desejada.
Segundo Daniel Goleman, são os seguintes os domínios / etapas de desenvolvimento da Inteligência Emocional:
- AUTO-AVALIAÇÃO: Habilidade para conhecer as emoções próprias e não ter receio de falar sobre elas;
- AUTO-REGULAÇÃO: Habilidade para controlar os impulsos próprios e de os canalizar para propósitos positivos;
- MOTIVAÇÃO: Paixão pelo cumprimento de objectivos;
- EMPATIA: Habilidade de relacionamento com os outros, considerando os seus sentimentos na altura da tomada de decisões;
- COMPETÊNCIAS SOCIAIS: Habilidade para construção de relações com os outros, trazendo-os para ambientes cooperativos e orientando-os na direcção desejada.
Quem desdenharia destas competências
na vida pessoal e profissional?
Emoção nas Organizações?
Habituámo-nos a conviver com a racionalidade das organizações. Até nos ensinaram, quando debutantes, que “as emoções ficam lá fora” e que “os líderes emocionais são fracos chefes”. Que se pode inferir daqui? Que o racional é desejável e indispensável ao êxito, e que o emocional é desajustado, impróprio até, e um perigo na caminhada para a concretização de objectivos.
Habituámo-nos a conviver com a racionalidade das organizações. Até nos ensinaram, quando debutantes, que “as emoções ficam lá fora” e que “os líderes emocionais são fracos chefes”. Que se pode inferir daqui? Que o racional é desejável e indispensável ao êxito, e que o emocional é desajustado, impróprio até, e um perigo na caminhada para a concretização de objectivos.
Nesta perspectiva encontrávamo-nos
face a dois polos opostos, inimigos que se destruíam um ao outro. Considerando
que os fenómenos afectivos seriam eminentemente individuais, que sentido faria
transportá-los para as organizações? Não só seria despropositado como nefasto e
para ambas as partes.
Como tudo evoluiu. Hoje, as empresas
percebem que os dois mundos, o racional e o emocional, não só podem conviver,
como se potenciam. Chegou a hora da conciliação e da colaboração sem remoques,
por muito que isso possa extremar opiniões. Nietsche chegou a declarar: “A
razão tira Emoção á vida” e “A Razão escraviza o Homem, levando-o á Loucura!”.
Mas todos sabemos que Nietsche não foi nem empregado nem empregador. De certo
que se referia à política e à religião, eventualmente às relações sociais.
Soft Skills nos Negócios
Vivemos numa época de especialistas. A nível das Competências Técnicas (Hard Skills) considera-se que o principal diferenciador é o QI, Coeficiente de Inteligência. Piaget há muito tinha definido Inteligência como a “Capacidade humana para entender o ambiente e transformá-lo”. Contudo, duas questões careciam de explicação: Porque elevados QIs falhavam em resultados sustentáveis, e porque razão QIs mais baixos conseguiam revelar-se como profissionais de excelência.
Vivemos numa época de especialistas. A nível das Competências Técnicas (Hard Skills) considera-se que o principal diferenciador é o QI, Coeficiente de Inteligência. Piaget há muito tinha definido Inteligência como a “Capacidade humana para entender o ambiente e transformá-lo”. Contudo, duas questões careciam de explicação: Porque elevados QIs falhavam em resultados sustentáveis, e porque razão QIs mais baixos conseguiam revelar-se como profissionais de excelência.
Seria possível encontrar um preditor
mais fiável que o QI? Resposta: sim. QE, o coeficiente de Inteligência
Emocional é melhor preditor que o QI. Acresce que o QI se revela quase imutável
ao longo da vida, ao passo que o QE se pode desenvolver.
Soft Skills no Ensino Superior
“O professor não ensina, ajuda o aluno a aprender”, defende Lauro de Oliveira Lima, autor do Método Psicogenético, com base nas teorias epistemológicas de Jean Piaget.
Gosto particularmente deste postulado, que fez escola no Brasil. Enfoca a aprendizagem em vez da formação, ou seja, centra-se nos alunos e nas suas formas de aprender em vez dos professores e suas práticas de transmitir saberes. Além disso, enfatiza as relações humanas sobre a ditadura da técnica.
Soft Skills – os Alicerces
Hard Skills são competências verticais. Soft Skills são competências transversais, e estas são as suas linhas mestras:
- Interacções Intrapessoais e Interpessoais;
- Consciência Profissional e Ética Laboral
- Pensamento Crítico (Vertical e Lateral) na Resolução de Problemas
Estas categorias de competências são desejadas em todo o tipo de organizações, sendo por isso alvo de desenvolvimento nos curricula académicos superiores mais diversos.
Este tipo de competências não se
ensina, aprende-se (entendeu, agora o leitor, porque gosto de Lauro de Oliveira
Lima?). Divulga-se para que os conceitos sejam assimilados pelos alunos, e
pratica-se sistematicamente em todas as disciplinas. Não faz qualquer sentido
construir disciplinas autónomas de Ética, Relações Interpessoais, ou Resolução
de Problemas. Não é assim, em classes expositórias, que se modelam atitudes e
se projectam comportamentos.
Detalhando um pouco:
Por Interacções Intrapessoais e Interpessoais contam-se, por exemplo:
(1) Networking – desenvolvimento empático que permite recorrer aos
outros quando necessário e ser suporte deles em regime de natural
reciprocidade,
(2) Cooperação – colocação dos interesses do grupo acima dos interesses
individuais (teamwork);
(3) Comunicação – partilha franca e eficaz de informações e
conhecimentos.
Por Consciência Profissional e Ética Laboral entende-se:
(1) Respeito pelos costumes e artefactos grupais;
(2) Confiança e Integridade – Comportamento honesto e coerente de
acordo com valores e princípios do grupo;
(3) Optimismo e Resiliência – Auto-motivação contagiante e
objectividade grupal militante.
Finalmente, mas não menos importante, Pensamento Crítico na Resolução de Problemas engloba:
(1) Proactividade – Transformar obstáculos em oportunidades;
(2) Negociação – Procurar explorar posições divergentes em interesses
comuns ou complementares, num processo de cedências aceitável pelas partes;
(3) Pensamento lateral – assumir sistematicamente que não existe uma
melhor maneira de solucionar qualquer questão.
Hard Contra Soft?
As competências técnicas são facilmente detectáveis e exploráveis. As competências comportamentais são difíceis de detectar, mas essenciais no planeamento prospectivo.
As competências técnicas estão
associadas a máquinas, modelos, e processos. Por isso se ensinam e se praticam
repetidamente para se garantir a sua previsível exploração.
As competências comportamentais
estão ligadas às pessoas. Por isso, comunicam-se, explicam-se, e aprendem-se.
Não se ensinam, praticam-se e interiorizam-se. São frequentemente intangíveis,
ligadas à qualidade, às emoções, aos sentimentos, e não à quantidade. Não são
clonáveis, e normalmente são perenes. Formam atitudes e não só comportamentos.
É por isso que devem ser
inequivocamente delineadas as fronteiras do conceito Soft Skills.
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