Na Gestão Por Objectivos (MBO - Management By Objectives1) nada de realmente novo – receitas, produtividade, e lucros2. Na forma de os atingir é que está a mutação. Designa-se Desenvolvimento Estratégico dos Recursos Humanos (DERH), e consiste num novo conjunto de políticas, técnicas e processos que remodela a cultura e enriquece o clima organizacional.
A função RH foi sempre
considerada uma função de suporte, burocrática e administrativa, raramente
sendo solicitada a qualquer participação activa nas operações das empresas,
feudo exclusivo dos profissionais de marketing e vendas. Hoje, RH tende a ser
considerado como peça essencial do desenvolvimento do capital humano e, através
dele, da vitalidade das organizações, base do seu crescimento e, mais
importante ainda, da sua sustentabilidade.
Delegar em funções de
linha o tratamento do ciclo de vida dos empregados – aquisição e retenção de
talentos, avaliação contínua de produtividade e justas recompensas – como ainda
se pratica mesmo em multinacionais de topo, não responde capazmente às voláteis
necessidades da envolvente. Para que a relação empregado–empregador faça
realmente sentido, há que promover a total sintonia de objectivos, numa
perspectiva de longo prazo, obviamente tomando em consideração as metas mais
imediatistas impostas pelos resultados financeiros.
São diversas as acções
que podem adicionar valor a esta transformação, e, claro que lidando com uma
matéria-prima tão delicada como são as pessoas, só devem ser levadas a cabo
após análise cuidada de cada situação. No entanto, estes são os pilares
estratégicos que condicionam uma transformação sustentável:
1. Todas actividades
dos empregados devem visar os objectivos da empresa
2. Todos os empregados devem sentir-se motivados e cooperantes
3. As contribuições individuais e grupais são a justificação do cálculo de retribuições e dos incentivos.
2. Todos os empregados devem sentir-se motivados e cooperantes
3. As contribuições individuais e grupais são a justificação do cálculo de retribuições e dos incentivos.
Motivação é aqui
utilizada como desejo compulsivo para a acção, entendendo-se que se refere a um
atributo interior individual. Cooperação é o superlativo de atitude de
envolvimento desejado e comprometido. Ambos, sendo atributos pessoais, podem
ser optimizados por condições ou acções exteriores.
Se os empregados não estiverem conscientemente solidários com a organização, não souberem o que deles se espera, e o que podem esperar do grupo, dificilmente as suas acções poderão alcançar o bom porto. Para evitar entropias, eliminar desperdícios, e criar sinergias, há que estabelecer processos (definidos como sequências de procedimentos interdependentes e datados, com responsáveis atribuídos, e resultados parciais definidos e observáveis) que sejam do conhecimento de todos e mereçam a anuência geral.
Esta visão partilhada
só é possível se for estabelecida uma clara e transparente política de
comunicação. Noutra vertente, os objectivos devem ser desafiantes e apropriados
a cada caso, acreditando no potencial de cada um. Esta prática sugerirá
vantagem das contribuições de excelência, com efeitos nas retribuições e na
visibilidade individuais.
Estamos, portanto,
perante uma nova dimensão que sobreleva as capacidades técnico-operacionais
(Hard Skills), e a entrar definitivamente no domínio atitudinal (Soft Skills).
2. Despertando os níveis motivacionais e cooperativos
Muitos foram os líderes que souberam inspirar os seus colaboradores. De entre eles destaca-se pela qualidade e longevidade com que o fez, Jack Welch, ex-líder da GE, cujos destinos conduziu por mais de três décadas. Destacava-se nele a exigência que mantinha sobre todos os directores de pessoas – a sua principal missão não consistia em superar as expectativas das metas atribuídas aos seus colaboradores, mas conseguir que cada um ultrapassasse os objectivos porque ser era essa a sua vontade. Tal só poderia estar ao alcance de líderes competentes, o que levou Jack Welch a construir a famosa Universidade GE, por onde a maioria dos colaboradores passavam regularmente, incluindo ele próprio.
Nunca trabalhei na GE,
mas estive com a IBM por quase quatro décadas. Conheci particularmente bem o
Centro Europeu de Formação da IBM em La Hulpe, nos arredores de Bruxelas, hoje
já desactivado a favor de ofertas alternativas existentes no mercado global. Lá
participei em múltiplas acções de formação e desenvolvimento para directores, e
aprendi muito, muito mesmo. Destaco os famosos workshops conduzidos pela
Harvard Business School. Em vários desenvolvi o que hoje considero como regras
fundamentais para liderar pessoas, ajudando-as a conquistar o sucesso.
Destaco:
- Todas as pessoas
devem estar cientes do que se espera delas como contribuição para a
concretização dos objectivos grupais
- As avaliações formais de acompanhamento e avaliação devem ser previamente calendarizadas, as métricas bem definidas, os itens conhecidos, e os critérios aceites
- A única forma de avaliar a produtividade é contra objectivos pré-estabelecidos e acordados
- Em avaliação de desempenho o debate deve ser sempre factual
- Todo o feedback deve ser construtivo, se bem que inclua críticas de melhoramento
- As avaliações formais de acompanhamento e avaliação devem ser previamente calendarizadas, as métricas bem definidas, os itens conhecidos, e os critérios aceites
- A única forma de avaliar a produtividade é contra objectivos pré-estabelecidos e acordados
- Em avaliação de desempenho o debate deve ser sempre factual
- Todo o feedback deve ser construtivo, se bem que inclua críticas de melhoramento
3. Retribuindo a contribuição
Todas as contribuições devem ser identificadas e reconhecidas. Tal não significa recompensar esforços, pois o que está em causa são efeitos e não vontades. Isto quer dizer, sem rodeios, que esforçar-se por atingir resultados não basta. Isso é condição mínima contratual, e, como tal, não justifica, por si só, qualquer prémio individual. Só as prestações que conduziram ou influenciaram resultados para além dos acordados merecem recompensas acima do acordado.
Ora, há que reconhecer
que, em regra, só os esforços devidamente orientados produzem efeito nos
resultados. É responsabilidade dos gestores, a todos os níveis, zelar para que
ninguém invista em trabalho infrutífero. Estamos a um passo de atingir o
pretendido – orientar, tão cedo quanto possível, quem se dispersou ou revela
insuficiências; premiar as estrelas; penalizar os incapazes reincidentes. A
mais elementar justiça recomenda tratamento diferenciado, com total equidade,
para contribuições distintas.
Estas práticas são
fundamentais para cimentar a credibilidade nas políticas e nas decisões que os
gestores têm de continuamente tomar. Existe uma expressão que exprime bem a
ideia: “Walk the Talk”, uma forma bem mais persuasiva do que a distante: “Lead
by Example”.
Sintetizando:
- Acompanhar os
progressos individuais através dos resultados obtidos
- Alinhar as tarefas com a estratégia
- Identificar quem contribui abaixo e acima das expectativas
- Promover a justiça, eliminando a injustiça de tratar de forma igual contribuições distintas
- Aumentar a satisfação e a motivação
- Melhorar o clima e a moral
O que outrora era uma difícil tarefa é hoje instrumentalmente acessível por via de aplicações informáticas, que nem carecem de grandes sofisticações técnicas para serem exploradas.
- Alinhar as tarefas com a estratégia
- Identificar quem contribui abaixo e acima das expectativas
- Promover a justiça, eliminando a injustiça de tratar de forma igual contribuições distintas
- Aumentar a satisfação e a motivação
- Melhorar o clima e a moral
O que outrora era uma difícil tarefa é hoje instrumentalmente acessível por via de aplicações informáticas, que nem carecem de grandes sofisticações técnicas para serem exploradas.
Assim, e em jeito
de conclusão:
- Compensa investir no
Capital Humano3
- Compensa dotar a organização de meios informáticos para gestão de pessoas
- Compensa incentivar os gestores à luz destes novos desafios
- Compensa incentivar os gestores à luz destes novos desafios
Notas:
1. O MBO deve-se a Peter Drucker (1909-2005)
e consiste num tipo de gestão caracterizada como método de planeamento e
avaliação, baseado em fatores quantitativos. Drucker publicou vastíssima
bibliografia sobre gestão. Para aceder a parte da sua obra pode começar pela
listagem disponível em https://pt.wikipedia.org/wiki/Peter_Drucker.
2. No início da década de 1990, Norton e
Kaplan apresentaram o que considero uma variante do MBO, designada BSC – Balanced
Score Card – hoje em dia muito utilizada no controlo de negócios. Trata-se duma
ferramenta que alarga os princípios financeiros do MBO às vertentes Clientes,
Desenvolvimento de Recursos e Processos Internos sob a óptica da Visão e da
Estratégia.
3. Esta é a minha designação preferida
quando me refiro a pessoas em ambiente de trabalho. Neste espaço continuarei,
contudo a utilizar a expressão Recursos Humanos, pois teria enorme dificuldade
em citar a Direcção de Capital Humano, por exemplo. Posteriormente revisitarei este
tema.
Sem comentários:
Enviar um comentário